Nós brasileiros, dentre vários maus hábitos, temos a terrível mania de reclamar. Digo que é uma mania, pois se repete ao longo dos tempos e digo que é terrível por não levar a nada. Reclamar é bem diferente de reivindicar. Reclamar, a meu ver, é aquele cacoete de falar algo sem objetivo específico. É blá, blá blá vazio. Reivindicar é ter em mente alguma sugestão ou solução para aquilo que desagrada. É “querer resolver um problema de fato”. Falo isso para introduzir a questão dos serviços públicos gratuitos. Vejam bem, não estou aqui tentando fazer apologia a políticos deste ou aquele partido ou altos escalões de superintendência do serviço público. Venho falar daquelas pessoas que fazem acontecer, os da linha de frente, por vezes sem bons salários, estrutura ou respeito dos próprios usuários. Não sou uma idosa, mas já tenho meu cociente de vida para fazer comparações.
Vítima de um acidente de trabalho (percurso, mais propriamente dito), tive como regra legal de procurar o SUS (Serviço Único de Saúde) para registrar atendimento médico. Apesar de ter uma plano de saúde (Unimed) considerado “bom”, não poderia realizar atendimento privado, então me coube procurar o CAIS mais próximo do acidente, que vinha ser o do Jardim América. Isso depois de aguardar mais de uma hora e meia para realizar o procedimento de perícia técnica do acidente de trânsito causador dos ferimentos, neste caso queimaduras bem expressivas.
Chegando ao referido CAIS quase tive um piripaque dado o número de pessoas se espremendo nas salas de espera (depois viria a saber que TODOS os casos suspeitos de Influenza A estavam sendo encaminhados para lá). Considerando que já eram quase duas horas da tarde (e eu ainda não havia almoçado) confesso que desanimei. Ao entrar fui explicar minha situação à atendente e ela, prontamente, me atendeu e me passou na frente daqueles que estavam aguardando atendimento por meu caso se tratar de URGÊNCIA. Dentro da sala de primeiro atendimento, as enfermeiras me atenderam muito bem e, concluindo ser queimadura, me recomendaram ir ao CAIS específico para a questão. Mas antes de me liberar, fizeram que eu fosse atendida por um médico para que eu não saísse por aí a céu aberto com os braços faltando pedaço.
Da mesma forma foi o atendimento da Dra. Fernanda. Atenciosa e educada, além de me examinar ainda tomou parte de seu agitadíssimo dia, mesmo sem ter total conhecimento de como, para me ajudar a fazer meu CAT (Comunicado de Acidente de Trabalho). Como eu estava um tanto tonta pelo acidente e fome, não sabia exatamente como proceder e ela tentou realmente me ajudar. Ferimentos limpos e “embaladinhos” para viagem, sigo para o outro CAIS.
Lá chegando, me surpreendo com a pouca quantidade de pessoas aguardando, a tranqüilidade e educação da atendente que, da mesma forma, adiantou meu atendimento por ser tratar de urgência. Entrando no consultório, com dor, com fome e com medo, novamente me surpreendo com a atenção a mim dedicada pelo Dr. Fabrício do CAIS do Setor Pedro Ludovico. Objetivo e profissional, sem ser frio e indiferente, o mesmo realizou o curativo juntamente com sua enfermeira, sem esquecer o cuidado e respeito pela minha dor.
Passada a peregrinação médica, após a recuperação física e em busca de ânimo para encarar as burocracias de COPOM e DETRAN para pegar meu registro de perícia do acidente (o qual tenho absoluta certeza de não ter sido a causadora) comecei a ligar para os referidos órgãos para obter as informações necessárias sobre os procedimentos, prazos, valores, datas, horários, documentos e endereços para evitar dissabores futuros. Mais uma vez me surpreendo com o atendimento da Sargento do COPOM e dos atendentes Alminda e Leandro do DETRAN. Foram educados e responderam todas as minhas perguntas com propriedade.
Juntando forças e coragem (somadas à revolta de ter que estar andando de lá para cá para resolver situações que outra pessoa me causou), fui ao DETRAN para pegar o documento e fico estarrecida de como meu atendimento foi rápido e bem feito. Os atendentes do órgão em questão, além de me atenderem prontamente, ainda se disponibilizaram a responder minhas perguntas a respeito das informações técnicas e confusas para um leigo constantes do documento.
Concluindo: perfeito nada é, mas acredito que as coisas podem mudar. Que nós precisamos reivindicar melhores condições de tudo, seja público ou privado. Mas que as melhorias são um processo e que nós também temos nossa parcela de responsabilidade, como cidadãos que votam com responsabilidade, trabalham com compromisso, pagam impostos com correção e acreditam de coração. E ao invés de lançar o jargão “Muda, Brasil”, arrisco um “Mudemos nós, brasileiros”!
Obs.: incluo aqui o atendimento do dia 10/09 por parte da Secretaria de Segurança Pública, através da Delegacia da Mulher. Estou emocionada, até.