segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Não se deveria ler Assis na adolescência

Confesso, costumava ler mais no passado. Não sei porque, mas ultimamente não tenho lido tanto quanto gostaria. Ler, como todos sabem, só tem a acrescentar em todos os sentidos. Não importa o que você leia: se é ficção científica, auto-ajuda, biografia, revista, romance, não faz diferença.

Tão pouco sei se o fenômeno da Internet fez com que pessoas lessem coisas diferentes de formas diferentes, fazendo com que nós fôssemos os maiores leitores de todos os tempos. Eu, particularmente, tenho certas limitações quanto a ler textos muitos extensos na tela do computador. O Kindle para mim seria um terror.

Mas nada disso importa no texto de hoje. Hoje trata-se de Machado de Assis, sua genialidade e sua eterna contemporaneidade. Mas cuidado, ler Machado no tempo certo é determinante para o sucesso da jornada.

Falo isso por ter sido sempre uma leitora voraz. Mesmo na tenra infância. Comecei com livrinhos de bolso com teores Western que pegava emprestado na banca de jornais e revistas (Banca T-2) em frente ao Peg-Pag de minha família. Lia um por dia, praticamente, porque tinha que devolver no mesmo dia. Eu, Christiane F., 15 anos, Drogada e Prostituída li deitada dentro de um Opala 74 em uma semana nas tardes que ficava esperando meus pais fecharem o mercado.

Lia de tudo, mas como parte de uma geração anos 80, minha adolescência foi coroada com a famosa e maravilhosa Coleção Vaga-lume (Spharion, O Cadáver Ouve Rádio, O Escaravelho do Diabo, Zezinho O Dono da Porquinha Preta, dentre outros). Depois, já mais mocinha, tive acesso à coleção de Marion Zimmer Bradley, a autora de As Brumas de Avalon (este não li), que tratava dos conflitos entre dois mundos absolutamente distintos (um antigo e outro ultra-moderno) que eventualmente se cruzavam (a saga Darkover).

Mas aí entra minha ideia deste texto: na adolescência li livros de Eça de Queirós (O Primo Basílio), Gustave Flaubert (Madame Bovary), Fiódor Dostoiévski (Os Irmãos Karamazov), Herman Melville (Moby Dick) e outros que faziam parte de uma coleção que minha mãe tinha, Os Imortais da Literatura Universal. Não lia exatamente porque tinha que ler. Lia porque estavam ali. Ao contrário de Machado de Assis, que éramos forçados a ler para provas na escola.

Mas não sei se ler estes livros na adolescência me fez muito bem. Tanta tragédia, tanta inveja, luxúria, maldade, desgraça (principalmente na literatura francesa) pode confundir uma mente inocente. Como Machado: tudo é tristeza. Todos são perversos e malignos, interesseiros e mentirosos. Inseguros e infiéis. São esses o modelo e a referência que queremos para orientar nossa vida futura? Tudo bem, o cara era genial. Seus textos eram impecáveis. Mas são muito intensos para os jovens que ainda não experimentaram muitas realidades próprias. E acho que é por isso que, depois de forçadamente expostos a estas obras ainda jovens, nós brasileiros temos dificuldade e desinteresse pelo saudável hábito de leitura.

Além de que hoje, após ter lido os clássicos do gênio brasileiro por obrigação, tenho um incurável trauma e uma certa aversão em relação a suas obras.

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